domingo, 13 de dezembro de 2009

Ideias Soltas



Às vezes prefiro ficar calada. Não que isso seja uma situação ruim, pelo contrário, não digo nada, mas meu olhar, gestos e o próprio silêncio falam mais do que qualquer outra palavra que saia de minha boca.

Acho que muitas pessoas tem medo do inesperado. Eu, particularmente, tenho medo não só do inesperado, mas também do esperado que pode se tornar inesperado. Não quero aqui traduzir o que estou dizendo ou deixar as ideias mais claras e coesas. Quero somente libertar de dentro de mim, tudo aquilo que de uma forma ou de outra me incomoda.

Existem mudanças, eu bem sei disso, que vem para o bem. Entretanto, o meu medo, na verdade a palavra certa seria desconfiança, surge como se novidades um pouco desastrosas viessem a surgir.

De uma coisa eu tenho plena certeza: Por mais que o medo apareça nessas situações, minha força de vontade é muito maior e sei que tirarei de letra qualquer que seja a situação. E como diz Clarice Lispector: “Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento". Vai ser assim...

E que assim seja.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Apenas um olhar durante duas vezes


Era uma grande noite de chuva. O vento forte balançava as folhas das árvores fazendo um breve ruído. Eduardo acabava de chegar de uma festa e tentava encontrar seu carro naquele emaranhado de ruas. Chovia demais naquele momento e ele não sabia como fazer para lembrar onde tinha deixado o carro. Duda, seu apelido, resolveu seguir adiante numa rua em que alguma coisa lhe dizia que estava o carro. Foi andando apertando o casaco grande para retirar um pouco a água presa, e quanto mais se locomovia mais sentia a chuva descer pelo seu rosto, deixando seus olhos ardendo. Andava... Ao mesmo tempo em que fazia isso, não olhava para trás, pois achava que se olhasse iria ver o que não queria. Então continuou caminhando. Até que por um momento percebeu que uma pedra caiu em seus pés. Não era simplesmente uma pedra no caminho, pela velocidade que bateu nele, notou que ela foi jogada.

Duda adiantou o passo. Entretanto, sentia que enquanto andava mais rapidamente, uma sombra lhe surgia pela parede úmida da rua. Continuou sem olhar para trás. Mais uma vez percebeu alguma coisa. Não, não era outra pedra. Era um barulho pequeno, mas por causa do silêncio do local, ele havia percebido. Passou a andar atento ao pequeno barulho e descobriu que era os passos de alguém pisando no sapato molhado. Eduardo então resolveu olhar para trás. Havia chegado a hora de descobrir como aquela pedra tinha chegado ao seus pés e quem estava o seguindo. Olhou... Mas nada viu!

E assim foi andando. Sentiu um alivio e pensou: “não deve ser nada demais...”. A cada passo que dava percebia mais ainda que algo ou alguém estava lhe seguindo. Porém, não quis olhar novamente para trás. Ao chegar no final da rua, ouviu o mesmo barulho de alguém com sapatos molhados, entretanto, estava muito mais intenso e mais rápido. Eduardo resolveu olhar para trás e logo em seguida andar mais rápido ainda do que estava. Olhou... e dessa vez percebeu que um homem de capuz preto vinha em sua direção. Duda começou a correr para o local mais claro e próximo possível. Em sua frente enxergou um carro estacionado e chegando mais perto, percebeu que era o seu.

Chegando no carro, Eduardo abre a porta, entra, trava tudo e deixa as janelas fechadas. Coloca a chave rapidamente para sair do local, mas o carro não liga. Ele tenta mais uma vez, e nada acontece. Duda olha pelo retrovisor para olhar se alguém aparece. Nesse instante ele enxerga novamente um rapaz de capuz preto andando em direção ao carro. Ele liga o carro de novo. Sem sucesso. Tenta procurar o homem do capuz pelo retrovisor novamente. Leva um susto quando alguém bate com força em seu vidro. Era ele. O homem do capuz. Eduardo finge não ver a batida e fica tentando ligar o carro para sair logo dalí. Então o rapaz bate com mais força para que Duda olhe para ele. Os olhares se cruzam. O homem o olhava fulminante, enquanto era nitidamente perceptível o olhar amedrontado de Eduardo.

Já passava das três horas da manhã e a única coisa que Duda queria era chegar em sua casa. Ele olhou para o lado e fez sinal com a mão para o homem do capuz, indagando o que ele queria alí. O rapaz sem nada a dizer, bateu mais uma vez em sua janela e tentou abrir a porta do carro sem conseguir por causa das travas. Então saiu andando em frente como se fosse embora. Eduardo ficou super aliviado por ele ter desistido e tentou ligar o carro mais uma vez. Não conseguiu.

Passaram cinco minutos e Duda não havia saído do lugar. Na frente do carro percebe a chegada de alguém novamente. Olhou bem e quando percebeu era o homem do capuz. Ele não estava só, trazia com ele uma madeira grande nas mãos. Duda se desespera. Força o carro várias vezes seguidas a ligar e não consegue. Até que quando o homem do capuz consegue chegar perto do seu vidro, Eduardo liga o carro rapidamente e consegue fazê-lo funcionar, saindo numa velocidade extremamente alta.

Seguiu o caminho de casa aliviado. O que mais queria era chegar e tomar um banho bem quente para não pegar um resfriado. Conseguiu. Ao chegar, tirou aquela roupa molhada, tomou um banho e foi fechar as janelas para dormir. Fixou seu olhar na chuva forte que caia lá fora e avistou uma sombra. Olhou novamente e tentou enxergar quem estava na rua uma hora daquelas. Ao observar, viu uma pessoa muito molhada. Continuou reparando. E do nada, quando menos esperava aquele olhar fulminante lhe notava mais uma vez. Era ele. O homem do capuz que surgia em sua vida.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Falando a um simples processo do nada


Percebi que minha vida está começando a mudar. Meus pensamentos voam juntamente com minhas ideias. Nada está mudando para a forma que eu imaginei, mas sei que o que está por vir é mais forte do que qualquer outra coisa que possa ter passado.
Os minutos soam lentamente no meu relógio. Sinto minha vida passar diante dos meus olhos como flashs de algo notado. Sei que nada foi em vão e que tudo continua sendo formas de aprendizado.
Situações, acontecimentos, ideias, vivências... VAMOS VIVER! Por que parar no meio do nada e desistir? Jamais. O melhor de mim eu conseguirei mostrar no momento certo. São retratações de momentos ligados a um simples processo do nada. Nada esse que deixo exposto não nas minhas ideias, mas nos meus pensamentos. São contínuos e eternos momentos da minha vida...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Definitivamente não chegou a hora de morrer

É cruel a forma como os acontecimentos vem à tona. Hoje em dia até a morte custa dinheiro. Não pouco, mas se por um acaso não estiver bem financeiramente, tem como solução em um determinado falecimento, fazer o enterro no Cemitério Quinta dos Lázaros. Não seria uma opção tão adequada no período de Outubro à Novembro de 2009, já que 100% das vagas disponíveis para as pessoas de baixa renda estão ocupadas nesse período. Entretanto, cabe afirmar que este cemitério possui mais de 200 anos de existência e de lá para cá registra um grande aumento na procura, enquanto seu espaço físico continua inalterado.

Não sabemos qual a pior situação ou a maior dor. Se é a morte de alguém ou as dificuldades existentes no momento do enterro. Porém, novidade seria se a população mais pobre de Salvador constituisse a minoria nos cemitérios públicos, já que o cemitério Quinta dos Lázaros possui uma parte para a população de maior poder aquisitivo e outra para as pessoas de menor renda. E isso, como todos nós sabemos, não é notícia de capa.

É fato que pessoas de baixa renda se aglomerem nas “filas” do enterro, isto porque são suas únicas oportunidades de aderirem a alguma vaga. Porém, por muita inteligência do Governo, o cemitério Jardim da Saudade, por exemplo, criou uma central de atendimento, conhecido como disk cremação, incentivando às pessoas a cremarem seus parentes para evitar a utilização de uma vaga no cemitério. Vale ressaltar que isso se deu a partir da intervenção do Ministério Público, quando percebeu a quantidade de pessoas no cemitério mais popular da cidade, como o Quinta dos Lázaros.

Errado seria não dizer o quanto o Governo conseguiu ser dinâmico com essa proposta, deixando por opção do parente escolher entre ir aos cemitérios municipais ou cremar estes indivíduos. Cabe ressaltar que a maioria destes cemitérios, por incrível que pareça, estão localizados nos bairros periféricos de Salvador. Quando a assunto é somente a cremação, é necessário colocarmos a seguinte observação: Antigamente somente pessoas de alto poder aquisitivo poderiam cremar seus entes queridos. Era uma maneira de resgatar momentos, recordações, guardando o pó dessas pessoas. Entretanto, por vontade própria do Ministério Público, a cremação atualmente possui uma tendência a se tornar uma coisa rotineira, já que está envolvida como solução principal para a diminuição de enterros nos cemitérios por falta de áreas disponíveis.

Portanto, é melhor tomarmos muito cuidado a qualquer tipo de situação. As soluções vem e voltam, os acontecimentos vem e jamais retornam. O que muitos chamam de inevitável, outros chamam de inigualável, já que a morte mesmo sendo o único acontecimento no mundo que consegue deixar no mesmo patamar ricos e pobres, não consegue igualar nós seres humanos nem no momento do enterro. Assim, é necessário afirmarmos que enquanto toda essa situação permanecer, definitivamente não chegou a hora de morrer.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Minha vida de logo mais



Tinha sido uma linda manhã de sol. Ângela estava exausta, tinha acabado de chegar do seu primeiro trabalho, quando lembrou que precisava escrever um texto para logo mais a noite. Fernando, seu marido, tinha deixado mais uma vez em cima da pequena mesa da sala o bilhete: “Não se preocupe com nada... Olhe ao seu redor, reflita suas vontades e expresse-as através de seus textos. Eu te amo!”. Ângela se direciona ao quarto com o pequeno bilhete na mão, coloca-o em seu emaranhado de papéis pendurados numa tela branca na parede. Liga a televisão. A desliga no mesmo momento. Percebe que está na hora de escrever e então começa.

“Como falar de assuntos do cotidiano misturados com a atualidade? É como tentar ouvir a televisão e o rádio ao mesmo tempo, sem saber onde encontrar o vies para tamanha situação. Entretanto, tentemos nos concentrar em nossos pensamentos, juntamente com os acontecimentos. A televisão acaba de confirmar uma morte. O rádio acaba de repassar uma música e logo depois a notícia de um nascimento importante. Aí então percebemos o quanto o mundo está o tempo todo em transformações, modificações e recriações da realidade. Mas como abordá-las? Necessito afirmar que o literário se entrelaça com o real e vice-versa. Tudo começa a partir do encontro do imaginário com a realidade. Porém, como criar algo valorativo, se a própria mídia contribui para que as coisas se reproduzam o tempo todo? É melhor não imaginarmos demais determinadas situações...”

Ângela levanta de sua cama, onde estava sentada escrevendo e vai andando pela casa. Sente falta de algo, mas não sabe explicar o que é. Abre a porta da sala, percebe uma tímida passagem de alguém. Ele a olha. Ela retribui com um olhar amedrontado. Passa as mãos pelos cabelos soltos e fecha a porta. Vai à janela e leva um susto quando percebe que ele tem uma foto sua nas mãos. Ela grita. Ele chora. Ela segue-o com o olhar e ele vem em sua direção. Ângela fecha as janelas rapidamente e escuta um breve ruído do silêncio. Silêncio esse que fala com ela e é interrompido quando alguém bate em sua porta. Ela sente medo. Ele sente ânsia. Uma voz surge e o silêncio reaparece logo depois.

Uma batida é notada mais uma vez em sua porta. Ela resolve abrir, mas antes disso corre em seu quarto, pega a folha escrita em cima de sua cama e a dobra em suas mãos. Ele a olha. Ela abaixa a cabeça percebendo suas nervosas mãos. Escuta sua voz. Era ele, Fernando. Ângela lembra de um pequeno trecho de sua escrita e reproduz naquele exato momento: “O mundo está o tempo todo em transformações, modificações e recriações da realidade... Tudo começa a partir do encontro do imaginário com essa realidade...”. Nesse momento Fernando chega mais próximo e te deixa um beijo na testa. Ela então começa a lembrar do seu dia e de suas dificuldades. Seu dois e únicos trabalhos: Conversas com o psicólogo, para recuperação de sua memória, e a criação de textos para posteriormente a análise de suas percepções. Acaba, sem querer, de lembrar que seu dia-a-dia sempre será sua vida de logo mais.